Boletim n.º 23, 2020
Muitos dos professores que atualmente se encontram a lecionar a disciplina de Filosofia sairão do sistema educativo dentro de 5 a 10 anos letivos. Fazem parte de um grupo que desenvolveu a sua profissionalidade docente numa escola que se desenhou após o 25 de abril de 1974. Uma escola que se foi sucessivamente abrindo a todos os alunos e que foi sofrendo constantes pressões sociais para responder com qualidade e exigência. Essas pressões são decorrentes, por um lado, do acolhimento de todos, independentemente dos seus obstáculos a uma aprendizagem bem conseguida (uma escola inclusiva); por outro lado, decorrem de uma crescente digitalização da informação e das redes sociais que implicam novos modos de estar, de ser, de aprender e que se apresentam à escola como uma necessidade, mas também se oferecem como desafios. Esta última forma de pressão social sobre a escola tornou-se muito mais visível com os eventos recentes e parece ter despoletado a hibridização há muito anunciada do ensino. Se muitas escolas portuguesas já tinham abraçado a hibridização do ensino há muito, muitas outras, e muitos atores sociais, confundem a utilização de tecnologias educativas digitais em sala de aula com a total virtualização do ensino. Não se colocando, portanto, em questão a continuidade do ensino presencial, aos que agora se encontram na fase final da sua carreira docente surge um amplo e complexo conjunto de desafios.
O desafio de tornar o ensino da Filosofia inclusivo, sem se perder um milímetro da qualidade, da exigência e da especificidade teórica dos problemas, conceitos e das teorias filosóficas.
O desafio de continuar a implementar um processo flexível, interdisciplinar e centrado na qualidade das aprendizagens que junta, à excelência teórica do campo disciplinar da Filosofia, a necessidade da excelência das práticas curriculares e metodológicas.
O desafio de incorporar de modo útil as tecnologias digitais, tornando-as verdadeiramente em tecnologias de educação. É um desafio complexo, porque estas não são apenas mais um instrumento, mas são um meio que, para se usar utilmente, exige uma mudança significativa no “ser professor”.
O desafio de participar na vida da escola, reforçando a importância do papel de todos nas tomadas de decisão que numa escola afetam o ato educativo, voltando a tornar as escolas em verdadeiros espaços de vivência de cidadania democrática.
Enfim, o desafio de deixar um legado à próxima geração de professores de Filosofia. Professores que, não sendo novos, não tiveram ainda a possibilidade de ter uma carreira, de investirem no “ser professor” com o horizonte que só a estabilidade profissional permite.
É nossa vontade que a Associação de Professores de Filosofia contribua para que todos consigamos, com sucesso, lidar com estes desafios.
Isabel Bernardo
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