Ousa Pensar! Edição 2024
Saber pensar e, mais particularmente, fazê-lo de um ponto de vista crítico, é uma exigência constante, mas que parece agudizar-se à medida que a realidade nos interpela de modo cada vez mais desafiante.
Ainda que, como defendem alguns autores, pensar criticamente possa ter uma origem natural, nem o exercício deste, de um ponto de vista mais geral, nem o exercício de um pensamento filosófico, de um ponto de vista mais restrito, são naturais.
A disciplina de Filosofia, no ensino secundário, tem um papel fundamental no desenvolvimento de capacidades e disposições de pensamento crítico e pensamento filosófico, levando os alunos a Ousar Pensar.
As sessões que se propõem visam ser mais uma interpelação para os alunos ousarem pensar a partir das intervenções que lhe são propostas.
Consulte infra as indicações para a inscrição da sua escola.
Inscrições AQUI.
PROGRAMA
Sessão 1 | 16 de janeiro de 2024 | 14h30
António Paulo Costa
Tolerar a intolerância?
Há alguns mal entendidos acerca do que significa ser tolerante. Certas pessoas identificam a tolerância com traços de carácter: para estas, o tolerante seria alguém compreensivo, “bonzinho” e que se esforçaria por conciliar todas as opiniões, mesmo as que são antagónicas; outras pessoas julgam que o tolerante seria alguém indiferente às ideias dos outros e, por isso mesmo, imune a conflitos de ideias; outras ainda supõem que a tolerância exige desistir de defender ideias próprias; por fim, há aquelas pessoas que julgam que a tolerância é acerca de pessoas e não de ideias.
Argumentarei que todas estas perceções da tolerância e do tolerante estão essencialmente erradas, propondo alternativas.
Terminarei pelo exame das respostas possíveis ao dilema da tolerância, sugerido pelo título da comunicação: deveremos tolerar ideias intolerantes? Que argumentos há para o fazer ou não fazer? Que razões temos, por exemplo, para rejeitar ou para admitir no espectro político forças antidemocráticas ou que defendam e pratiquem limites à liberdade política e à liberdade de pensamento e de expressão? Deveriam tais forças ser proibidas, ou pelo menos silenciadas? Afinal, quais os limites da tolerância?
Sessão 2 | 18 de janeiro de 2024 | 10h15
João Rebalde
Um mundo cheio de ecrãs: a filosofia e a educação em tempos de telemóveis
A sociedade contemporânea promove o uso de tecnologias que têm o écran como denominador comum, destacando-se entre estas os telemóveis. Este facto, acompanhado por um desenvolvimento de redes, aplicações, jogos e conteúdos de informação, tem potenciado o acesso globalizado a novas formas de comunicação e novas dinâmicas sociais, profissionais, educativas, familiares ou de lazer.
Contudo, aspetos perniciosos deste fenómeno começam a evidenciar-se nos mais diversos setores da sociedade. Um número crescente de estudos elaborados pela comunidade científica tem vindo a documentar os efeitos perversos da exposição prolongada às tecnologias de recurso a ecrã, especialmente em crianças e jovens. Alterações neurológicas, aumento de transtornos psíquicos, menor desenvolvimento cognitivo e da linguagem, diminuição da capacidade de atenção, aumento de comportamentos agressivos, alteração da qualidade do sono e afetação do rendimento escolar, são alguns dos efeitos descritos.
Tendo em conta a crescente evidência dos efeitos perniciosos do uso descontrolado destas tecnologias, as alterações sociais que promovem e a documentação científica que tem sido produzida sobre este assunto, há um debate emergente sobre o lugar destas tecnologias na sociedade. A presente conferência pretende refletir sobre este fenómeno tecnológico e as suas consequências, desde uma perspetiva filosófica e educativa.
Sessão 3 | 25 janeiro de 2024 | 10h15
David Erlich
Desafios socráticos
Tal como Sócrates interrogativamente confrontava os seus interlocutores nas ruas de Atenas, também nós vamos circular pelas “ruas” da escola e questionar estudantes, funcionários e professores. O que terão a dizer sobre as grandes questões da humanidade?
Sessão 4 | 20 fevereiro de 2024 | 10h15
Artur Ilharco Galvão
Fazer Filosofia: O Caso do Amor como Problema Filosófico
Diz-se que o ser humano é naturalmente filosófico e, por isso, que todos podemos encetar o género de reflexão realizada pelos filósofos académicos ou profissionais. Há, deve reconhecer-se, algum fundo de verdade nessa ideia. Contudo, ela não traduz nem o funcionamento da filosofia nem uma realidade que seja verdadeira para a maioria dos seres humanos. Nesse sentido, analisar alguns dos procedimentos e estratégias filosóficas permitirá não só compreender o género de trabalho desenvolvido pelos filósofos profissionais, bem como os objetivos da própria filosofia. O amor fornecerá um caso de estudo ilustrativo da prática filosófica.
Sessão 5 | 22 de fevereiro de 2024 | 10h15
Luís Veríssimo
Deve haver limites à liberdade de expressão?
A liberdade de expressão é o direito de expressarmos publicamente as nossas opiniões sem sermos impedidos de o fazer por nenhum elemento externo. Tipicamente, a possibilidade de expressar livremente as nossas opiniões contribui para um aumento significativo da nossa felicidade e bem-estar. Mas será esse direito absoluto, ou haverá exceções? Quais? O que poderá justificá-las?
Sessão 6 | 18 abril de 2024 | 10h15
Leonor Torres, com a colaboração de Germano Borges
Da distinção à transição: Percursos e percalços de alunos de excelência no ensino superior
A problemática da excelência académica tem vindo progressivamente a ganhar visibilidade política e mediática no panorama educativo português. A recuperação da ideologia meritocrática como um dos princípios estruturantes da agenda educativa, associada ao incremento de estratégias de controlo e de prestação de contas, tem-se repercutido na gestão das organizações escolares, pressionando-as a adotar orientações performativas. A instituição dos quadros de excelência, valor e mérito constitui a expressão visível desta preocupação, cada vez mais presente na ação político-pedagógica das escolas e dos agrupamentos de escolas. Os alunos distinguidos no quadro de excelência no secundário constituem uma elite académica ainda pouco estudada em Portugal: qual o perfil sociográfico destes alunos? Que atividades frequentam, dentro e fora da escola? Que estratégias de estudo utilizam? Como organizam o seu tempo de estudo e de tempos livres? Como acedem ao ensino superior? Que percursos e percalços vivenciam no ensino superior?
Com base em resultados de investigação, reflete-se sobre as experiências, as trajetórias e as expetativas destes alunos distinguidos no ensino secundário. Procura-se indagar se as experiências escolares destes alunos interferiram na forma como construíram os seus percursos escolares; se a transição para o ensino superior constitui mais uma etapa num percurso contínuo de excelência, ou se, pelo contrário, é pautada por condicionalismos de diversa ordem; e, por último, em que medida as expetativas destes alunos excelentes são objetivamente concretizadas no ensino superior.
Dinamizadores
António Paulo Costa
é professor no Agrupamento de Escolas de Miranda do Corvo (Coimbra). É licenciado em Filosofia – Ramo de Formação Educacional, pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, desempenhou funções no Gabinete de Avaliação Educacional e no IAVE, I.P. e foi formador de professores acreditado pelo CCPFC nas áreas da Didática e da Avaliação das Aprendizagens em Filosofia. É ex-membro da Direção da Sociedade Portuguesa de Filosofia e co-fundador do Centro para o Ensino da Filosofia da SPF. Nos últimos anos teve funções de tutoria junto de alunos refugiados sírios e sudaneses. Anima o blogue «A última guerra nos Balcãs» (https://aultimaguerranosbalcasblog.wordpress.com/) e um grupo no Facebook com o mesmo nome.
Artur Ilharco Galvão
é docente na Faculdade de Filosofia e Ciência Sociais, da Universidade Católica Portuguesa – Braga. Integra a direção da Revista Portuguesa de Filosofia e, entre outras, leciona as unidades curriculares de Epistemologia, Filosofia da Ciência e Filosofia da Linguagem.
David Erlich
Licenciado em Ciência Política com minor em Filosofia, Mestre em Filosofia e Mestre em Ensino de Filosofia, com menção no Quadro de Mérito da NOVA FCSH, instituição em que cursa o Doutoramento em Filosofia. Antes de iniciar a carreira docente em 2017, estando ao serviço do Ministério da Educação desde 2019, em acumulação com uma escola do setor particular, trabalhou seis anos no setor da animação socioeducativa em contexto escolar. Participou em diversas publicações e encontros sobre Filosofia e Educação, nomeadamente a conferência académica “Wonder, Education and Human Flourishing”, na Universidade Livre de Amesterdão. Mantém o canal de YouTube “A Tua Filosofia”.
João Rebalde
Investigador do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto e investigador responsável do projeto “Será que Deus conhece os contingentes? A origem da doutrina da ciência média no século XVI”, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia. A sua atividade de investigação centra-se nas áreas da Filosofia Antiga, da Filosofia Medieval e do início da modernidade, da Ética, da Filosofia da Natureza e da Filosofia da Tecnologia. No âmbito destas áreas tem apresentado numerosas conferências e é autor de várias publicações.
Leonor Torres
Professora Associada com Agregação do Instituto de Educação da Universidade do Minho. É socióloga e doutorada em Ciências da Educação, especialidade de Organização e Administração Escolar. Os interesses de investigação têm incidido sobre a cultura organizacional, os processos de liderança, os percursos de excelência na escola e no mundo do trabalho. É Diretora do Centro de Investigação em Educação (CIEd) e Coordenadora do Mestrado em Ciências da Educação, especialização em Administração Educacional. Desempenhou os cargos de Vice-Presidente e de Presidente do Conselho Pedagógico do Instituto de Educação da Universidade do Minho entre 2013 e 2017.
Informações mais detalhadas podem ser consultadas no Cienciavitae.
Luís Veríssimo é doutorado em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Publicou artigos de Filosofia em revistas internacionais de especialidade. É autor de manuais escolares do Ensino Secundário das disciplinas de Filosofia e Psicologia, bem como de materiais didáticos. Leciona cursos de formação em Lógica, Ética, Metafísica e Filosofia da Religião.
SESSÕES E INSCRIÇÃO DAS ESCOLAS
Sessões
Com uma hora de duração, e cerca de 15 minutos para debate, as sessões decorrem por videoconferência na plataforma Zoom.
Presença de até 10 escolas por sessão em simultâneo. Cada escola definirá a organização interna, podendo ser possíveis até 8 acessos por cada escola.
Organização e inscrição
As escolas serão informadas da efetivação da reserva após 30 de novembro de 2023. Poderão ser aceites novas inscrições após essa data, em função do número de reservas efetivadas.
Toda a logística inerente à articulação com os palestrantes, e respetivos honorários, a abertura da sessão na Zoom e envio do link para acesso à sessão é da responsabilidade da Apf.
A escola assegura a logística local, nomeadamente a ligação à Internet, a qualidade do som em sala e a forma de fazer chegar as questões aos palestrantes. Poder-se-á utilizar o chat da Zoom.
Inscrições até 30 de novembro de 2023
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