O trabalho filosófico: perspetivas de quem começa
Em articulação com as diversas universidades que em Portugal oferecem o mestrado em ensino, a Apf convidou professores recém-formados pelas Universidades do Porto, Coimbra, Beira Interior e NOVA de Lisboa.
A partir da questão “Há uma especificidade no ensino e na aprendizagem da filosofia no ensino secundário?” e com práticas já implementadas, pretende-se envolver convidados e participantes numa discussão que promova a reflexão sobre possíveis respostas a questões como: este ensino e aprendizagem implicará o que Michel Tozzi chamou de “trabalho filosófico”?; o que significa este trabalho para os alunos e para os professores?; se existe um trabalho filosófico a realizar no espaço de aprendizagem da filosofia e do filosofar, como se concretiza?; tem uma identidade específica face ao espaço das outras disciplinas?
Certificação
De presença, para os que não reúnam condições de certificação de curta duração.
Na modalidade de formação de curta duração (3h), para docentes em exercício de funções no sistema de ensino português. Para obter esta acreditação será necessário o registo na plataforma do CFAE Beira Mar, caso nunca tenha sido feito. A APF fornecerá ao CFAE Beira Mar as informações necessárias para registo na turma de formação e emissão dos certificados, que se encontrarão, no final do processo, na área reservada de cada formando.
Sessão 1 | 13 de novembro de 2023 | 20h45
Qual o lugar da Não-Filosofia na Filosofia?, por Débora Rana
Filosofia Online – dois projetos, por Manuel da Cruz
Diálogo em torno de uma problematização de lastro histórico-filosófico, por Bruno Bré
Sessão 2 | 20 de novembro de 2023 | 20h45
A multidisciplinariedade da filosofia enquanto disciplina de ensino e a sua interrogação implícita, por Clayton Silva
A aula como momento de conciliação entre uma filosofia do dia-a-dia e uma filosofia para o exame, por João Gouveia
A importância do trabalho filosófico como estímulo de pensamento crítico e reflexivo, por Sónia Sampaio
Sessão 3 | 27 de novembro de 2023 | 20h45
O Papel do Educador: criação de um ambiente de aprendizagem significativa na disciplina de Filosofia, por Cassandra Gonçalves
A importância de ser Professor de Filosofia no Ensino Secundário, por Kelly-Elisabeth Marques
Estímulos ao pensamento crítico e ao diálogo, por Paula Alves
Preçário
Associados com a quotas em dia: 18€
Não associados: 23€
Estudantes: 5€
Palestrantes e resumos
Bruno Ribeiro Bré nasceu no Porto (1999). Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2017-2020). Mestrado em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com a dissertação “A Filosofia como atividade reflexiva – A importância de um fio condutor de caráter histórico-filosófico no ensino da Filosofia no Ensino Secundário.” (2020-2022). Frequência do Programa Doutoral em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em regime de tempo integral (2022-presente) e membro do Grupo de Investigação PPS – Philosophy & Public Space, do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto (2023-presente).
Diálogo em torno de uma problematização de lastro histórico-filosófico
A presente reflexão estabelece uma relação direta com a dissertação de mestrado intitulada “A Filosofia como atividade reflexiva – A importância de um fio condutor de caráter histórico-filosófico no ensino da Filosofia no Ensino Secundário.” Nesse sentido, o escopo desta apresentação incidirá sobre a possibilidade de contribuir para o enriquecimento do trabalho filosófico desenvolvido com os estudantes através da ponderação de um fio condutor de natureza histórico-filosófica.
A ponderação de um fio condutor com tais características, visa promover uma abertura a outras possibilidades de resposta por via do estabelecimento de um diálogo profícuo em torno dos problemas filosóficos levantados. E, configurando-se a Filosofia como uma atividade iminentemente reflexiva, esse mesmo diálogo gerado preconizará o aprofundamento do trabalho filosófico desenvolvido com os estudantes e, concomitantemente, o enriquecimento da própria Filosofia.
Palavras-chave: Filosofia; Problematização; Didática.
Cassandra Abigail da Silva Gonçalves é natural de Aveiro, licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e mestre em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O Relatório de Estágio incidiu especialmente no uso da música como recurso didático no ensino de Filosofia. Atualmente, é professora no Colégio Diocesano de Nossa Senhora da Apresentação, onde leciona as disciplinas de Filosofia do 10.º e 11.º anos, bem como a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento do 7.º e 9.º anos.
O Papel do Educador: criação de um ambiente de aprendizagem significativa na disciplina de Filosofia
Na minha apresentação abordarei a importância do papel do educador, além do ensino de conteúdos específicos. Também explorarei a ideia de atrair o interesse dos alunos através da exposição dos conteúdos com entusiasmo e da criação de um ambiente positivo, no qual os alunos se sintam à vontade para partilhar as suas opiniões. Outra estratégia fundamental é a realização de exercícios práticos e análise de casos reais, mais do que a exposição dos conteúdos programáticos. Isto passará pela construção de perguntas/fichas, pesquisa de exercícios adaptados ao ritmo de aprendizagem, utilização dos recursos da editora adotada (ou não), realização de trabalhos individuais, em pares ou grupos, e a aplicação de exemplos do quotidiano, como notícias, músicas, vídeos e excertos de filmes e séries – de modo a despertar o interesse dos alunos. Mas é essencial conhecer os interesses dos alunos ao escolher exemplos relevantes e integrar a filosofia nas suas vidas diárias, relacionando com as suas experiências pessoais. Deste modo conseguimos esclarecer a relevância da Filosofia. No campo da música podem ser trabalhadas diferentes estratégias desde a escuta e análise de músicas à luz das Aprendizagens Essenciais e quiçá a construção de um poema musical ou canção, de acordo os conteúdos filosóficos. Além destas práticas, é necessário estabelecer limites e incentivar a responsabilidade dos alunos, verificando a realização de tarefas e a revisão dos conteúdos. Por último, reforçar as quatro competências filosóficas, que são precisamente os critérios de avaliação da disciplina: Problematização, Conceptualização, Argumentação e Comunicação.
Clayton Santiago Cardoso Silva é licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (n. 18 março 1989). Realizou o Mestrado em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova, com a dissertação “O ensino da filosofia da arte como porta para o pensar filosófico”. Alia o seu amor à filosofia com a poesia procurando relacionar o ensino da filosofia com a vida prática.
A multidisciplinariedade da filosofia enquanto disciplina de ensino e a sua interrogação implícita
“Que ninguém, por ser jovem, tarde em filosofar nem, por ser velho, se canse da filosofia. Porque nunca se é demasiado jovem nem demasiado velho para alcançar a saúde da alma. (…)”. Epicuro
Quando um aluno de filosofia termina o Mestrado em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário depara-se com o fenómeno escolar. Embora o estágio pedagógico possibilite a iniciação ao que significa ser professor de filosofia, nada é mais forte do que a experiência direta de estar numa sala de aula. Experiência esta sem a segurança de alguém mais experiente e perante uma instituição e alunos que exigem que o recém-nascido professor de filosofia transmita o que é a filosofia através de um método de ensino previsto e planificado por entidades externas à própria filosofia. Esta experiência, na sua essência, entendo-a como Agostinho da Silva ao referir que “no seu ponto mais alto, a filosofia é uma criação perfeitamente similar à criação artística ou religiosa ou amorosa e quem não tem nervos de artista, força de imaginação e (…) uma vida rica pode ser professor de Filosofia, mas duvido que chegue alguma vez ao plano em que vale realmente ser filósofo.”É neste âmbito que alguém habilitado para lecionar filosofia no ensino secundário pode também lecionar outras disciplinas, e foi este o meu caso, e por isso, pude reconhecer a multidisciplinariedade da filosofia enquanto unidade curricular e a sua capacidade de gerar o espanto ontológico apenas com o pronuncio do seu nome.
Débora Rana (1990, Lisboa, Portugal) vive no Porto e trabalha no Colégio Novo da Maia. Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (2011) e é mestre em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário (2019). Atualmente, frequenta o mestrado em Estudos Artísticos – Teoria e Crítica da Arte da Faculdade das Belas Artes da Universidade do Porto. Colaborou com a editora Leya na produção de conteúdos didáticos para o manual Como Pensar Tudo Isto, 10.º e 11º anos, e neste momento desempenha a mesma função para um novo projeto inserido na disciplina de Área de Integração do Ensino Profissional.
Qual o lugar da Não-Filosofia na Filosofia?
O que se seguirá resulta da interseção de duas paixões: a Filosofia, pelo seu carácter aberto, inconformista e antidogmático, e a Arte, pelos modos de ver e fazer mundo que instaura e/ou incita. Nesse sentido, a convite da Associação de Professores de Filosofia e no âmbito da 5.ª Edição do ciclo temático “O trabalho filosófico: partilha de práticas”, a reflexão a que me proponho incidirá no binómio Filosofia-Arte.
Sem hierarquias ou dependências, é possível avaliar esta relação em duas direções antinómicas: aquilo que na Filosofia interessa à Arte e aquilo que na Arte interessa à Filosofia. Neste caso, debruçar-me-ei sobre a segunda, uma vez que nos interessa pensar esta relação sob a perspetiva do ensino-aprendizagem de Filosofia. Reanima-se assim um velho debate, que consiste tão-somente em questionar o lugar da Não-Filosofia na constituição da própria Filosofia. Não sendo uma questão nova nem por isso deixa de merecer ser debatida. De facto, encontramos diferentes respostas para a mesma interrogação: qual o lugar da Não-Filosofia na Filosofia? De um modo mais preciso, em que medida pode o Não-Filosófico contribuir para a Filosofia? Tendo como pano de fundo estas questões, e com recurso a diferentes cruzamentos, interferências e/ou interseções, equacionar-se-á o modo como esta aliança pode contribuir para o labor filosófico.
João Gouveia concluiu a licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa em 2015. Concluiu a licenciatura em filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 2018. Concluiu o Mestrado em Filosofia Política na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa em 2019. Nesta faculdade, concluiu também o Mestrado em Ensino de Filosofia em 2022 e encontra-se neste momento a realizar o doutoramento. Está também a trabalhar num projeto Erasmus + sobre o ensino da cidadania ativa. No último ano letivo, lecionou Filosofia na Escola Secundária de Mafra.
A aula como momento de conciliação entre uma filosofia do dia-a-dia e uma filosofia para o exame
Nos exames nacionais, são testadas competências de compreensão textual e de argumentação na forma escrita. Mas um processo de preparação para esse momento é tortuoso para grande parte dos jovens – especialmente para os que não são suficientemente introspetivos, pacientes e resilientes. Perante isto, a questão que se coloca é a de saber como tornar o ensino da filosofia mais apelativo sem deixar de preparar os alunos para a eventual realização do exame (que podem escolher fazer até ao último momento do ano letivo). Temos de perceber como estimular competências que só podem ser treinadas com a paciência e a persistência para as quais a adolescência não mostra uma propensão natural, sem levar a que a aversão e o ódio pela filosofia se instalem e fechem as mentes dos alunos às mudanças que o sistema de ensino esperava conseguir.
Uma abordagem sensata passa por distinguir a preparação para o exame do treino filosófico semanal – por exemplo, são reservadas algumas aulas no final do ano letivo para a resolução de exames de anos anteriores e o resto do tempo é dedicado a atividades mais dialógicas e dinâmicas. No entanto, devemos ponderar se uma tal forma de lecionar não acabará por tornar ainda mais evidente a separação entre uma filosofia livresca (de que os alunos guardarão memória como a verdadeira filosofia) e uma componente mais lúdica do ensino, que o professor traz para as aulas para tornar a disciplina suportável. Em vez de uma tal separação, devemos encontrar métodos que providenciem ambas as componentes – que estimulem competências de compreensão, interpretação e escrita argumentativa, mas que sejam também recebidos pelos alunos como relevantes para as suas vidas.
Kelly-Elizabeth R. Marques (natural de França, com nacionalidade portuguesa, atualmente com 27 anos de idade), realizou a sua formação na Universidade de Coimbra (Licenciatura e Mestrado em Ensino de Filosofia). Iniciou a sua atividade profissional em 2020, no Colégio Dom Diogo de Sousa, em Braga. Em 2020-2021, foi professora no Colégio São Teotónio, em Coimbra, sendo atualmente professora contratada no Agrupamento de Escolas Madeira Torres, em Torres Vedras (primeira experiência no Ensino Público). Para além da lecionação da disciplina de Filosofia, lecionou disciplinas opcionais do 12.º ano (Sociologia e Ciência Política) e do Ensino Profissional (Sociologia e Psicologia).
A importância de ser Professor de Filosofia no Ensino Secundário
O ensino da filosofia no ensino secundário é imprescindível no currículo dos nossos alunos. Esta disciplina torna-se indispensável tendo em conta a realidade com que nos deparamos dentro de sala de aula, com alunos com sérias dificuldades em pensar, refletir e debater criticamente sobre os problemas éticos, políticos e sociais atuais na nossa sociedade. Enquanto professora de filosofia considero que, para além da transmissão de conhecimento do programa, os meus alunos deverão adquirir um conjunto de competências fundamentais que lhes permitirá saber pensar e debater criticamente, tornando-os cidadãos conscientes e participativos.
Neste sentido, considero que os alunos deverão encontrar nas aulas de filosofia, o espaço por excelência, para o debate crítico e o trabalho colaborativo, reconhecer a importância do diálogo e da escuta ativa, respeitando convicções ou opiniões contrárias às suas, desde que as mesmas possibilitem romper preconceitos, ideias pré-feitas, conduzindo à inclusão e ao respeito pelos Direitos Humanos. A filosofia tem a capacidade de os tornar sensíveis sobre os problemas atuais com que nos deparamos e, sobretudo, a transmissão de valores éticos e morais, que os desenvolvam emocionalmente, de forma a que sejam suficientemente sensíveis e empáticos na relação que estabelecem com os Outros e na forma como confrontam os seus e os problemas da Humanidade.
Os nossos alunos são atualmente confrontados diariamente com situações de desrespeito pelos Direitos Humanos, como é o caso da guerra, da violência, do desprezo e da falta de consideração e respeito pelos direitos dos Outros, num constante atropelo à Liberdade e à Igualdade dos seres humanos. É no ensino da filosofia, que o professor deverá debater e refletir com os seus alunos sobre estas situações, procurando desconstruí-los e encontrar formas de os resolver, demonstrando que o caminho se faz pelo respeito pela Diferença, no respeito pela singularidade de cada um, alertando-os que o futuro está nas suas “mãos” e que os mesmos têm o poder de contribuir ativamente para uma sociedade mais justa, ética, consciente e empática. Ser professor de filosofia é partilhar as ferramentas necessárias para que os nossos alunos possam vir a fazer a diferença nas decisões que tomam, decisões que deverão ser responsáveis, reconhecendo que é na relação com os outros que nos podemos autorrealizar e tornar-nos seres mais Humanos, no sentido de Humanidade na sua essência e plenitude.
Manuel Da Cruz é professor do ensino secundário das disciplinas de Filosofia, Psicologia e Área de Integração. Licenciado em Filosofia, é mestre em Filosofia Política e Ética e mestre em Ensino de Filosofia, doutorando em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto e pós-graduado em Filosofia para Crianças pela Universidade Católica. Tem desenvolvido vários projetos no âmbito da Filosofia (Janelas de Matilde – Filosofia para Crianças e Jovens; Filosofia no Secundário – canal de Youtube de videoaulas e apoio ao exame de Filosofia; e produção de ensaios filosóficos) e da Literatura (Leituras – canal de Youtube de leituras e declamações; produção de obras de poesia, prosa e teatro).
Filosofia Online – dois projetos
A divulgação filosófica e a sua prática pedagógica não são, nem historicamente foram, limitadas aos meios académicos ou à sala de aula. Com a proliferação e o acesso massificado às plataformas digitais, o trabalho filosófico pode, na atualidade, ser realizado e apresentado de forma mais transversal e universal. O primeiro caso apresentado foi desenvolvido por mim com a criação de um canal de Youtube, Filosofia no Secundário, onde se apresentam videoaulas e lives de apoio ao exame nacional. O segundo caso corresponde à divulgação, através de ilustrações, da Filosofia para Crianças e Jovens pela plataforma Instagram – Janelas de Matilde. Os dois projetos podem servir de exemplo de como a Filosofia pode alcançar um público mais alargado através de diferentes metodologias.
Palavras-chave: Filosofia; Youtube; Instagram; Filosofia para Crianças.
Links:
https://www.youtube.com/@filosofiasecundario/
https://www.instagram.com/janelasdematilde/
Paula Alves é licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade da Beira Interior (2012), pós-graduada em Filosofia para Crianças pela Universidade de Évora (2013) e mestre em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário pela Faculdade de Letras da Universidade da Beira Interior (2017), com a dissertação intitulada “O Diálogo no Ensino Secundário”.
Estímulos ao pensamento crítico e ao diálogo – exercícios práticos
O ensino da Filosofia promove o desenvolvimento do pensamento crítico, livre e autónomo. Os jovens costumam pensar que a filosofia é pouco necessária, pouco influi na sua vida, na solução para os seus problemas comuns do dia-a-dia, mas quando são confrontados com os problemas contemporâneos que constam nas AE do 10º ano – onde a genética, a globalização, as novas tecnologias, as diferentes políticas e culturas existentes no mundo levantam problemas tão profundos que podem colocar em causa as relações entre países, a saúde mundial (COVID-19) ou, até mesmo, a continuação de vida no planeta – alguns desses problemas deixam de ser dos outros e passam a estar presentes nas suas vidas. O isolamento restringiu o desenvolvimento da empatia, da troca de visões diferentes sobre um mesmo problema entre os alunos, fruto da falta de convívio presencial, num momento importante da sua formação enquanto seres humanos, seres sociais (como é a fase da adolescência), mas trouxeram à consciência que esses problemas não estão distantes. É necessário estimular – texto, série e distribuição de chocolates versus distribuição da riqueza – o pensamento crítico e o diálogo entre os jovens aproveitando os conteúdos do 10º para promover o interesse por uma melhor compreensão dos problemas, de forma a harmonizar as divergências e a encontrar novos caminhos, consoante as profissões e trajetos que pretendam seguir na vida.
Sónia Sampaio é licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Mestre em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, com a dissertação “O contributo da Teoria da Justiça de John Rawls para o desenvolvimento de uma consciência social e política nos estudantes do ensino secundário.”
Associa o amor pela Filosofia e ao ensino, com o acreditar que as aulas de Filosofia são momentos privilegiados na valorização do conhecimento, do diálogo, do debate e do desenvolvimento, onde a valorização da capacidade reflexiva, aliada ao estímulo pelo debate e pela troca de ideias, pela afirmação e pela defesa dos direitos fundamentais, se encontra tão presente e tão explícita.
A importância do trabalho filosófico como estímulo de pensamento crítico e reflexivo
O trabalho filosófico a ser desenvolvido em sala de aula com alunos do ensino secundário é de extrema importância para o desenvolvimento intelectual e crítico desses jovens. A filosofia oferece uma oportunidade única para explorar questões fundamentais sobre a existência, a natureza do conhecimento, a moralidade e a própria essência da humanidade. Portanto, o trabalho filosófico nesse contexto deve ser estimulante, envolvente e desafiador.
Em primeiro lugar, o trabalho filosófico promove a capacidade de questionar e pensar criticamente. Ao explorar temas filosóficos, os alunos são incentivados a examinar cuidadosamente as suposições subjacentes às questões e a desenvolver habilidades analíticas. Eles aprendem a formular perguntas significativas, a considerar diferentes perspetivas e a avaliar argumentos com base na lógica e na evidência. Isso ajuda os alunos a desenvolver um pensamento independente e a se tornarem cidadãos mais conscientes e informados.
Além disso, o trabalho filosófico em sala de aula estimula a reflexão ética. Os estudantes são desafiados a refletir sobre questões morais complexas, como a justiça, a liberdade e a responsabilidade. Eles são incentivados a considerar diferentes teorias éticas e a aplicá-las a situações concretas. Isso vai capacitá-los para a tomada de decisões éticas fundamentadas e leva-os a compreender a importância das consequências das suas ações tanto no âmbito pessoal quanto no coletivo.
O trabalho filosófico também abre espaço para a exploração da diversidade de pensamento. Ao estudar filósofos de diferentes épocas e culturas, os alunos são expostos a uma variedade de perspetivas filosóficas. Isso amplia a sua compreensão do mundo e ajuda-os a desenvolver uma mente aberta e tolerante. Além disso, a filosofia oferece um espaço para o diálogo e o debate construtivo, onde os alunos podem expressar as suas opiniões e aprender a respeitar o ponto de vista dos outros.
O trabalho filosófico em sala de aula estimula a criatividade e o pensamento imaginativo. Os alunos são encorajados a explorar questões filosóficas de maneiras não convencionais, a fazer conexões entre diferentes áreas do conhecimento e a desenvolver as suas próprias ideias originais. Isso fomenta a autonomia intelectual e incentiva os alunos a tornarem-se agentes ativos na procura de respostas para perguntas filosóficas complexas. Neste sentido, a diversidade de materiais didáticos torna-se fundamental para desenvolver abordagens pedagógicas mais inclusivas, que promovam o diálogo intercultural e a compreensão mútua. Isso envolve a incorporação de textos filosóficos variados na planificação das aulas, visualização de vídeos, a criação de espaços de discussão e reflexão sobre a diversidade cultural e a promoção do respeito pelas diferentes tradições filosóficas.
Em suma, o trabalho filosófico em sala de aula com alunos do ensino secundário proporciona uma base sólida para o desenvolvimento intelectual, crítico e ético desses jovens. Ao cultivar habilidades de pensamento crítico, reflexão ética, apreciação da diversidade e criatividade, a filosofia ajuda os alunos a tornarem-se cidadãos mais conscientes, engajados e capazes de enfrentar os desafios do mundo contemporâneo.
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