38.º Encontro de Filosofia | Filosofia e Emoção
A Apf – Associação de Professores de Filosofia organiza o 38.º Encontro de Filosofia, sob o tema Filosofia e Emoção, a decorrer no dia 17 de fevereiro de 2024, em formato híbrido (plataforma Zoom e Casa Municipal da Cultura, em Coimbra).
As emoções são uma componente fundamental da experiência humana. Estão presentes em todos os momentos da vida quotidiana. No entanto, a investigação filosófica nem sempre se debruçou sobre a natureza das emoções e, com alguma frequência, foram estabelecidas como opostas à razão. Atualmente, tanto a investigação filosófica, como a investigação interdisciplinar entre a filosofia e diferentes áreas científicas, têm gerado um amplo corpo de conhecimento no âmbito da estética, da filosofia da mente, da ética e da filosofia política.
Para os inscritos na modalidade online, o acesso à plataforma Zoom será disponibilizado até ao dia anterior ao evento.
Sob o formato de congresso, o Encontro será proposto para acreditação para efeitos da carreira docente, na modalidade de formação de curta duração (6h). Emissão de certificado a realizar pelo Cefop da Liga dos Amigos de Conímbriga.
PROGRAMA
09h00 Receção dos participantes (presencial)
09h25 Receção aos participantes (online)
09h30 Palavra de boas-vindas
09h45 Conferência de abertura
Emoções e Moralidade, em torno de Bernard Williams (ou algumas diferenças importantes entre a ética como projeto filosófico e uma abordagem cognitiva das emoções) por Sofia Miguéns, FLUP
11h00 – Intervalo
11h30 – Emoção, epistemologia e cognição
Meta-emoções: problemas, desafios e contribuições para melhor compreender as emoções por Dina Mendonça, NOVA
Emoções Radicais por Laura Silva*, Universidade Laval, Canadá
12h45 – Almoço
14h45 – Emoção, ética e política
Epistemologia para o mundo real por Carolina Flores*, Universidade da Califórnia
Título em confirmação por Alexandre Franco de Sá, FLUC
Democracia apaixonada por M.ª Tereza M. Sánchez*, Universidade Nacional Autónoma do México
17h00 – Conferência de encerramento
A Expressão de Ódio por Teresa Marques*, Universidade de Barcelona
* comunicações por vídeoconferência
18h00 Encerramento dos trabalhos
18h15 Assembleia Geral da Apf
Preçário
Associados com quotas em dia: 45€
Não associados: 65€
Estudantes e aposentados: 20€
CONFERENCISTAS E RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES
Alexandre Franco de Sá é Professor Auxiliar do Departamento de Filosofia, Comunicação e Informação da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e Coordenador do Mestrado em Ensino de Filosofia no Ensino Secundário da mesma faculdade, é Doutor em Filosofia, na especialidade de Filosofia Moderna e Contemporânea, pela Universidade de Coimbra. É Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, Brasil. Autor de mais de quatro dezenas de artigos publicados em revistas e cerca de três dezenas e meia de capítulos de livros, para além de vários trabalhos em atas de eventos. Orientador de inúmeras dissertações de mestrado e teses de doutoramento, júri de graus académicos, organizador/coorganizador de vários seminários, congressos e encontros, já participou, como conferencista, em inúmeros eventos, em Portugal e no Brasil. Foi Presidente da Direção da Associação de Professores de Filosofia durante uma década (2006-2016). Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Filosofia Fenomenológica, é membro da Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa.
Carolina Flores é professora auxiliar de filosofia na Universidade da Califórnia – Santa Cruz. Doutorou-se na Universidade de Rutgers, e foi também investigadora pós-doutoral na Universidade da Califórnia – Irvine. A sua investigação centra-se em epistemologia social e filosofia da mente e ciência cognitiva. Tem escrito sobre tópicos como “resistência à evidência”, “estilos epistémicos” e “representações de identidades sociais”. Para além disso, tem-se envolvido em projetos para diversificar a filosofia e gosta de escrever para audiências gerais.
Epistemologia para o mundo real
Nesta palestra, vou abordar um desenvolvimento recente na epistemologia analítica com foco social: a ideia de epistemologia hostil (de Thi Nguyen), em que agentes são levados a crenças falsas sobre o mundo através da exploração de vulnerabilidades da nossa cognição que, por si só, não são problemáticas, incluindo o papel de certas emoções.
Na primeira parte da palestra, vou relacionar este tema com algumas das ideias centrais que tenho desenvolvido no meu trabalho, nomeadamente, a ideia de máscaras sobre capacidades racionais e o conceito de estilo epistémico. A ideia principal deste trabalho tem sido desenvolver ferramentas que nos permitam compreender melhor as crenças dos outros, incluindo as que parecem profundamente irracionais, em parte ao compreender como as estruturas sociais exploram e distorcem o nosso pensamento.
Na segunda parte da palestra, vou falar de uma abordagem curricular nova que estou a desenvolver sobre estes temas. Esta proposta foca-se em ensinar epistemologia a partir de problemas sociais e políticos concretos, e em orientar os alunos para pensarem em potenciais soluções. Fornecerei as ferramentas de ensino que poderão vir ser úteis noutros contextos.
Dina Mendonça é investigadora em Filosofia (Filosofia das Emoções e Filosofia para crianças) do Instituto de Filosofia da Nova (IFLNOVA) na NOVA FCSH da Universidade Nova de Lisboa, trabalha uma abordagem Situada às Emoções que as considera como ocorrências situacionais dinâmicas e ativas (Mendonça 2012) que permite explorar e identificar outras complexidades do mundo emocional (Mendonça 2013, 2016, 2017, 2019, 2022). Para além do seu trabalho de investigação em filosofia da emoção, promove e cria material original para aplicação da filosofia a várias etapas e contextos escolares, e como auxílio em processos criativos. Webpage
Meta-emoções: problemas, desafios e contribuições para melhor compreender as emoções
A apresentação começa por desenhar a contribuição da reflexão filosófica para a construção interdisciplinar de uma Teoria das Emoções. Entre os conceitos filosóficos desenvolvidos encontramos a sugestão de que a reflexividade emocional, as meta-emoções, têm um papel importante para compreender a interação das emoções nos processos de aprendizagem. Quando as emoções são sobre outras emoções podem distinguir-se meta-emoções que podem modificar de forma radical os processos emocionais experienciados. Ainda que as meta-emoções sejam inquestionáveis levantam muitas dúvidas, problemas que podem ajudar a compreender melhor o poder transformador dos processos emocionais. A apresentação conclui apontando possibilidades teóricas que as meta-emoções prometem para uma ampla e inclusiva teoria das emoções.
Laura Silva é uma filósofa que trabalha principalmente sobre a natureza e o valor da emoção para a nossa vida moral e política. A sua investigação tem lugar nas intersecções da filosofia da mente e da emoção, da filosofia da psicologia, da psicologia moral e da filosofia feminista. O trabalho de Laura Silva é empiricamente informado em dois sentidos: esforça-se por levar a sério a realidade social e é informado pelo trabalho empírico das ciências do cérebro e do comportamento. Após uma licenciatura em neurociências e um doutoramento em filosofia, pela University College of London, ocupou cargos de pós-doutoramento no Centro de Psicologia Filosófica, Universidade de Antuérpia; no Centro Suíço de Ciências Afectivas, Universidade de Genebra; e no Centre de Recherche en Éthique, Montreal. Atualmente, é professora auxiliar na Université Laval (Cidade do Quebeque, Canadá) no departamento de ciência política.
Emoções Radicais
Qual o valor moral e político das emoções? E como é que as respostas a estas perguntas estão relacionadas à questão da natureza das emoções? Nesta apresentação defendo que as emoções têm um papel extremamente importante a desempenhar na nossa vida moral e política. A natureza das emoções, enquanto representadores de valores, concede-lhes uma própria racionalidade que as possibilita desempenhar papéis radicais na geração de novo conhecimento e na motivação de ações morais. Contudo, num mundo longe de ideal, o potencial radical das emoções é muitas vezes bloqueado por vários tipos de injustiças, incluindo injustiças distintivamente afetivas das quais vou falar. As teorias existentes sobre a própria natureza das emoções mais básicas (ex: raiva, medo, inveja) não são isentas de interferência pela ideologia reinante, pelo que temos de adotar uma metodologia que chamo ‘promíscua’ para melhor pensar as emoções e o seu valor social.
María Teresa Muñoz Sánchez é professora na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade Nacional Autónoma do México e membro do Sistema Nacional de Investigadores. A sua linha de investigação centra-se na Teoria do Juízo inspirada no pensamento político de Hannah Arendt e na sua confluência com o pensamento contemporâneo sobre os bens comuns. A partir desta perspetiva, tem feito incursões na teoria feminista. Publicou três livros sobre estes interesses filosóficos: Hannah Arendt. New Paths for Politics, (2020); A Critical Approach to Epistemology, (2016); Wittgenstein and the Linguistic Articulation of the Public. A path from semantics to politics, (2009); um livro coletivo editado, The emergence of the common. Novos Feminismos e Pós-Marxismos. (no prelo) e 3 coletâneas: Pensar el espacio público. Ensayos críticos desde el pensamiento arendtiano, (2011), com Marco Estrada; Violencia y Revolución en la filosofía de Hannah Arendt. Reflexões críticas. Colegio de México COLMEX, (2015); Diccionario de Justicia, compilado e editado com Carlos Pereda, (2016). As suas publicações incluem 24 capítulos de livros, 54 artigos de investigação em revistas nacionais e internacionais e 15 artigos populares. Proferiu 35 conferências, 81 palestras e organizou 30 eventos académicos.
Uma democracia apaixonada
Nesta palestra partirei da tese de raiz arendtiana de que o sentido da política, da autêntica política, é a fundação e constituição de espaços onde as pessoas se possam manifestar livremente através da ação e do discurso; um espaço comum, no qual os agentes, na sua ação conjunta, revelam o que são e o que desejam que o mundo seja. Note-se então que a fundação e instituição de um espaço de liberdade de expressão e de ação requerem confiança. Poderíamos pensar que essa confiança é uma questão puramente epistémica, ou seja, que tem de se basear em certezas. Nesta perspetiva, poderíamos pensar que existe uma ligação inelutável entre as certezas a que acedemos através da compreensão e a confiança necessária para constituirmos juntos uma comunidade política. No entanto, vou argumentar que a confiança a que apelamos na vida pública tem uma ligação inescapável com os afetos e as emoções. Procuro então, no quadro de uma investigação mais ampla que tenho vindo a desenvolver sobre a teoria do juízo, gerar uma mudança na reflexão sobre os assuntos políticos da ideia de razão para a ideia de discernimento; e, assim, mostrar que o juízo reflexivo aplicado aos assuntos políticos não pode nem deve prescindir dos afetos e das emoções.
A partir do modelo de democracia participativa que defendo, o conflito de interesses e a multiplicidade de conceções do bem não é, em rigor, um obstáculo a ultrapassar, mas a própria condição de possibilidade de um espaço público prenhe de pluralidade. Os objetivos políticos coletivos e a gestação de um mundo comum são sempre realizações incompletas, frutos nunca acabados da atividade cívico-participativa. É no processo participativo que se gesta, se alimenta e se educa uma cidadania que, com base na confiança, se compromete com a constituição e a fundação do seu espaço público. Este conceito de cidadania comprometida pressupõe que ser cidadão é equivalente a uma participação consciente, isto é, baseada num juízo político e crítico. E, insisto, este juízo não pode ser entendido à margem das emoções e das paixões.
Sofia Miguéns é professora catedrática do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, onde ensina (sobretudo) epistemologia, filosofia da mente e da linguagem e filosofia contemporânea. É investigadora no Instituto de Filosofia da mesma universidade, onde dirige a linha temática de Filosofia Contemporânea e o Mind, Language and Action Group (MLAG), que fundou em 2005.
Foi Visiting Scholar na Universidade de Nova Iorque, no Instituto Jean Nicod – Paris e na Universidade de Sydney – Austrália e Visiting Professor em Amiens e Paris. Foi Presidente da Sociedade Portuguesa de Filosofia. É autora de nove livros e mais de uma centena de artigos publicados em revistas da especialidade. Coordenou, entre outros, os seguintes volumes coletivos: Consciousness and Subjectivity (Ontos Verlag, 2012), Pre-Reflective Consciousness (Routledge 2015), Filosofia da Mente – Uma Antologia (UPorto Press 2020, com João Alberto Pinto e Diana Couto) e The Logical Alien (Harvard University Press, 2020). Nas Edições 70, além da versão anterior deste livro, publicou Arte Descomposta – Stanley Cavell, a estética e o futuro da filosofia (2022). Tem lecionado cursos e feito conferências em vários países, entre eles a Espanha, França, Alemanha, Áustria, Turquia, Suíça, Finlândia, Austrália, Polónia, Rússia, República Checa, entre outros. Foi Diretora do Departamento de Filosofia (FLUP) e do Instituto de Filosofia (FLUP), da licenciatura em Filosofia e do Mestrado em Filosofia. É diretora do Programa de Doutoramento em Filosofia da FLUP.
Emoções e Moralidade, em torno de Bernard Williams (ou algumas diferenças importantes entre a ética como projeto filosófico e uma abordagem cognitiva das emoções)
O filósofo inglês Bernard Williams era um filósofo analítico e um nietzscheano. Envolveu-se em discussões várias com outros filósofos analíticos, como Richard Rorty e David Wiggins, sobre o valor da verdade e opôs-se ferozmente a leituras pós-modernistas de Nietzsche e às consequências perniciosas para as humanidades do relativismo aí presente. É esse o pano de fundo desta apresentação, em que tentarei explicar diferenças entre uma abordagem das emoções na ciência cognitiva e a abordagem de Williams à acção e à motivação para a acção, usando como exemplos Shame and Necessity (1993) e Truth and Truthfulness (2002). Recordando Ethics and the Limits of Philosophy (1985), discutirei em seguida os problemas que Williams vê em todo o trabalho dos filósofos em ética. Terminarei explicitando uma causa íntima a Williams: a defesa das humanidades na vida intelectual (Making Sense of Humanity, 1995, Philosophy as a Humanistic Discipline, 2006).
Teresa Marques é filósofa da linguagem, mas tem interesses em metaética, epistemologia, filosofia feminista e social. É professora agregada na Universidade de Barcelona. Recentemente, editou o livro Shifting Concepts: The Philosophy and Psychology of Conceptual Variability com Åsa Wikforss para a Oxford University Press(2020) e Collective Action, Philosophy and Law com Chiara Valentini para a Routledge (2021). Tem publicado em revistas como Philosophical Studies, Erkenntnis, Synthese , Australasian Journal of Philosophy, Thought, Inquiry, Ratio, Philosophia, Metaphilosophy , ou Journal of Applied Philosophy.
Anteriormente, Teresa foi investigadora principal do projeto CONCEDIS, sobre variabilidade conceptual e disposicionalismo de valor, Marie Curie Research Fellow com um projeto sobre atitudes coletivas e desacordo normativo (FP7/Comissão Europeia), e investigadora principal de um projeto EUROCORES. Lidera, com Manuel García-Carpintero, o projecto The Philosophy of Hybrid Representations.
Teresa Marques foi galardoada com um prémio ICREA Acadèmia em 2022.
A Expressão de Ódio
Defendo que o discurso de ódio é um discurso constitutivamente prejudicial porque expressasse sentimento (não meramente porque pode ter consequências prejudiciais, ou porque pode ofender certos grupos de pessoas). Reconhecer que o discurso de ódio expressa ódio pode ajudar a explicar os supostos contra-exemplos à ligação essencial deste tipo de discurso o sentimento. Em segundo lugar, eventuais efeitos prejudiciais podem explicar-se com esta teoria expressivista. O que torna este discurso algo pernicioso é o ódio que normaliza, e as condutas e objetivos que tende a gerar.
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